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quinta-feira, março 25, 2010

País endividado é país amansado



O nosso país, esta pequena região à beira mar plantada, periférica e a longo prazo irrelevante, está cada vez mais refém dos ditames económicos e políticos internacionais. Se até há alguns anos tínhamos como obrigação cumprir os critérios da burocracia belga, hoje, outras autoridades se (a)levantam. Mercê de uma dívida externa crescente, Portugal é hoje visado, como num jogo bolsista ultra-avançado, por instâncias norte-americanas de controlo de risco. Instâncias essas que não são – pelo menos na sua essência – políticas, mas antes empresariais. Instâncias essas que são financiadas por grandes grupos económicos norte-americanos que, ao mesmo tempo, financiam a economia europeia através do crédito. Essas instâncias têm como objectivo avaliar o “risco da dívida”, ou seja, a capacidade de um país credor vir ou não a pagar os juros desse mesmo crédito. O mais curioso é que essas mesmas instâncias de risco não foram capazes de, em tempo útil, prever o colapso financeiro que teve início com a crise do sub-prime no seu próprio país! Os EUA são, ao mesmo tempo, o país mais endividado do mundo, tanto a nível de défice interno como externo, mas impõem agora tipificações de risco aos países europeus, vítimas secundárias da irresponsabilidade dos agentes económicos norte-americanos, da especulação imobiliária, do crédito irresponsável tanto do lado do credor como do devedor. Portugal, já de si garroteado pelas imposições dos PEC´s, vê-se agora também constrangido no colete de forças das empresas emissoras de crédito. Quem ainda tem dúvidas de que certas instâncias económicas têm mais poder político que os próprios governos soberanos dos estados, têm aí, à vista, a prova, a chaga aberta para tocar e crer. É assim, por estes meios, que continentes inteiros atrasam e condenam outros continentes à anemia económica, através de um controlo crescente que é imposto pelo endividamento. É a ameaça não mais velada do “ou cumpres, ou aumento-te o juro”. Há pelos vistos um ditado que diz que “Povo endividado, é povo amansado”. Podemos talvez parafraseá-lo no contexto das nações: nação endividada, é nação amansada...

Neste contexto, a Europa só poderá levantar-se e afirmar-se economicamente se 1) for capaz de encontrar outras fontes de financiamento da economia, 2) for capaz de se solidarizar internamente com os estados mais fracos, sem esperar que instâncias externas como o FMI o façam, 3) for capaz de aliviar o garroteamento que os estados mais fortes impõe sobre os mais fracos, nomeadamente através da imposição de quotas de produção – regime obsoleto -, e de saneamentos de contas públicas em – absurdos – períodos de 3 anos. No contexto actual, o que se passa é que os estados mais fortes da União limitam o progresso dos mais fracos, e os países financiadores como os EUA limitam, por sua vez, o progresso tanto dos fortes como dos fracos – bem como o seu próprio progresso, em última instância -.

Da parte dos agentes políticos em geral, o que se vê é um mastigar lento, uma política débil e cobarde de gestão do status quo. Ninguém tem coragem de mudar, de impor políticas a sério, não de quatro anos, mas de dez ou quinze. O que se passa é uma anedota. A soberania é cada vez mais uma caricatura de si mesma, e cada um dos agentes públicos é um peão, um joguete, um soldadinho de chumbo no tabuleiro das nações.

A ver vamos.

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