Anúncios google

segunda-feira, julho 20, 2009

A decadência do jornalismo é a decadência da Democracia


Essa tal grande, pródiga e de costas largas crise financeira e económica que vivemos actualmente teve o condão de fragilizar as sociedades, de empobrecer e de fomentar dependências. A queda da confiança nas instituições bancárias, e no sector privado em geral, está a conduzir a uma afirmação dos estados, dos governos como os grandes «salvadores», legitimando que, em última análise, estes amplifiquem os seus poderes de intervenção, de tentacularização da sua acção, por ventura à socapa dessa tão recentemente apregoada solução de uma «maior regulação». Porque, em última análise, é disso que se trata: aumentar o controlo sobre a opinião pública, sobre as pessoas e a sua liberdade. Sabemos bem o papel que as crises do passado tiveram na ascensão dos regimes totalitários, tanto de esquerda como de direita.

Hoje, estamos a assistir a um fenómeno que não augura nada de bom para a democracia. A imprensa, nomeadamente a escrita, vê-se a braços com grande dificuldades em manter-se de pé, sobre o peso das dificuldades económicas e, sobretudo, sobre o peso de uma filosofia de mercado e de concorrência que substitui o bom jornalismo pelo mau jornalismo. Há pouco tempo, cento e muitos dos melhores jornalistas do Jornal de Notícias, com sede no Porto, foram pura e simplesmente despedidos, alguns já com trinta anos de experiência. O Primeiro de Janeiro já despediu também centenas de jornalistas, substituindo-os – e é isto que é muito grave – por estagiários a recibo verde, já para não falar em todos aqueles que são convidados para estágios não remunerados e são, ao fim de três meses, convidados a ir para a rua. O Público, um dos jornais de referência, está também na mesma rota de desintegração, e os seus trabalhadores deixaram de ter quaisquer garantias da estabilidade dos seus postos de trabalho. Amanhã, podem bater com o nariz na porta, descartados em troca de «mão-de-obra barata». Pode argumentar-se que tudo tem a ver com a concorrência dos jornais gratuítos, ou com o facto dos jornais de papel estarem a perder terreno em relação ao jornais on-line. A questão aqui não é essa. A questão essencial é a de que o jornalismo de qualidade e referência, independente e sério, não tem garantias de sobrevivência quando está nas mãos de profissionais cujas carreiras subsistem no fio da navalha, ou nas mãos de estagiários que não tem tempo para mostrar o que valem, ou não ganham o que merecem, ou nem sequer podem fazer estágios não-remunerados porque a vida não se condói com este tipo de precariedades, nem com esta falta de futuro. Não pode haver um jornalismo independente, informado e sério quando se tem o emprego em risco. Não pode haver bom jornalismo quando a concorrência é feroz e o importante não é a boa informação, mas a informação sensacional. Não há bom jornalismo sem bons jornalistas e sem continuidade e liberdade de acção, e nem uma nem outra estão garantidas nas redacções do nosso país. Nenhuma destas. Puxe-se a meada do jornalismo, da boa informação, e é certo que toda a estrutura da democracia cairá por terra. Antes de mim, já penso que Jefferson o terá dito. Então, se não há segurança nos privados que gerem a imprensa, então devem ser os estados a tomar conta, como se fizeram com muitos bancos por todo o mundo? É verdade que com os jornais não há riscos sistémicos, nem perigos para a confiança económica. Ou pensando melhor, há outro tipo de riscos sistémicos que têm a ver com a confiança na informação. Hoje, a confiança nos bancos é diminuta, e basta fazer uma simples sondagem à opinião pública para percebermos que, em última análise, «só o banco do Estado parece dar garantias de segurança». E se o mesmo se vier a passar com o jornalismo? E se, perante as inseguranças dos jornalistas e dos consumidores, os governos decidirem também tomar conta da imprensa, criar novos jornais, abrir novos canais noticiosos, oferecendo segurança, credibilidade, aparente isenção? Não seria este o contexto ideológico certo para o fazer? O que seria então da independência política, da verdadeira isenção? Não seria esta situação o princípio do fim da democracia? Há uma verdade insofismável na política: quando a sociedade civil enfraquece, o caminho está aberto para os totalitarismos. Esta crise teve o condão de provocar a decadência há já muito anunciada da sociedade civil, dos privados, da iniciativa, da criatividade individual e colectiva. Os governos, perante esta situação, praticam a política do subsídio, do pão para a boca, e subliminarmente aumentam o seu controlo e domínio sobre as populações. Veja-se o que está a acontecer em Portugal. As pessoas não gostam da insegurança, da incerteza, e porque estão frágeis, desgastadas pelas vicissitudes e dificuldades, só aspiram por governos fortes. Terreno fértil, não é? Lembra algo que já sucedeu muitas vezes no passado... E a corda na garganta começa, precisamente, na precariedade e incerteza de um posto de trabalho. Um governo que dá acredita estar legitimado para cobrar. Uma sociedade civil fraca e dependente não é garantia de prosperidade e futuro para nenhum país. É assim que um país perde a sua liberdade; é assim que um país perde a sua independência. O povo diz: «Antes fossemos espanhóis!».

3 comentários:

Anónimo disse...

Cuidado? Cuidado pq?

Não digo nada de importante no blog é verdade... mas ás vezes apetece-me escrever e soltar o q a minha mente esconde.

There's nothing wrong with that.=P

lsufia disse...

Fui eu q escrevi o comentario.

MEDRA PROL disse...

EU NÃO VOTO! (não exercerei o meu direito de voto, em qualquer tipo de eleições, enquanto me mantiverem como desempregada à força).