Anúncios google

segunda-feira, junho 29, 2009

Blog muda de nome para estar mais de acordo com a realidade - Cenáculo do (pseudo) Filósofo



Tendo recebido inúmeros feedbacks de que o nome do meu blog é pretensioso, e tendo também em conta que já perdi uma certa ingenuidade infantil passados quatro anos, decidi alterar-lhe o nome. A partir de agora chamar-se-á Cenáculo de um (pseudo) filósofo. Espero com esta alteração ser levado mais a sério, embora exista também a possibilidade contrária...

Quanto mais aprendo, quanto mais penso, quanto mais vivo, mais me apercebo da dúvida e do quanto eu não sei. A bem dizer, não sei absolutamente nada de nada. Cada vez tenho mais consciência do quanto me mantenho à superfície, em vez de cumprir com o conselho do meu professor de filosofia do 10º ano de «mergulhar no mar do conhecimento, em detrimento da calma da praia, ainda que nos afoguemos na dúvida...)

Acreditava eu que existiam pensadores acabados, diplomados e absolutamente sábios. Não podia estar mais enganado! Somos antes de mais aspirantes a qualquer coisa, eternos estudantes, eternas crianças esbracejando e brincando com pedaços de lego e carros de corrida...

domingo, junho 28, 2009

Heal The World

Deixo aqui duas das canções de Michael Jackson que considero mais extraordinárias, e que, em última análise, mais nos podem ensinar, assim como às futuras gerações.

Os ícones, na verdade, nunca morrem.



quinta-feira, junho 25, 2009

PSD em coma - parte II



É cada vez mais óbvia a desorientação ideológica do PSD. A entrevista de hoje com Manuela Ferreira Leite acentuou a sensação que eu já tinha de falta de ideias, de rumos e sentido. Ferreira Leite não conseguiu, em nenhum momento da entrevista, ser objectiva e concreta. Não concretizou ideias, não apresentou soluções, limitando-se a afirmar que existem «outras fórmulas para agir», ou «que o caminho é errado», aliás como vem fazendo desde sempre. Quando foi questionada se estaria ou não de acordo com a nacionalização do BPN, o silêncio que sucedeu a sua meia-resposta foi constrangedor, e soou a incompleto. Se eu fosse a entrevistadora perguntaria objectivamente «que soluções? Que alternativas? O que faria de forma diferente se de facto fosse governo?» Já não falo dos «TVG´s», porque afinal a senhora estava bastante nervosa e todos erramos sob pressão (ou quase todos). A sensação que dá é a de que a líder do PSD vai tendo umas ideias avulsas, umas noções disto e daquilo, mas nada de verdadeiramente consistente que se possa dizer que constitua um projecto, ou um plano de acção para a governação de um país. Fica a sensação de que a oposição (ou a tentativa de oposição) posta em prática pelo PSD é levada a cabo quase como uma obrigação pela estatuto de «maior partido da oposição». Não basta de todo enunciar o perigo do endividamento crescente, ou a necessidade de se reformular a política de obras públicas, por mais bem intencionados e pertinentes que sejam tais enunciados. Fica sempre o vazio da alternativa. Soa sempre a forçado e a falso. O PSD de hoje é uma sombra fugaz do que foi com Sá Carneiro ou com Cavaco, e não vale a pena vir com o argumento de que «ganhámos as europeias!». Não sei verdadeiramente se foi o PSD que ganhou as europeias, ou se foi o PS que as perdeu, ou até se foi a abstenção a grande vencedora. A tal muito reverberada «politica de verdade» tem de ter conteúdo, e não apenas forma. Não basta adjectivar de «escandaloso», «inaceitável», «impensável», é preciso apresentar objectivamente aquilo que será o contrário do escandaloso, o realmente aceitável, e o pensável.

É preciso poder de decisão e de inovação. O PSD não pode apresentar-se como uma partido de paliativos, ou de caminhos batidos. A vocação original de um PSD é a de partido reformador e progressista, voltado para a liberdade económica conduzida em paralelo com o progresso social nas vertentes económica, cultural, educativa, humana e social. O homem é o «princípio e a meta», não o meio. Foi o próprio fundador do partido que o disse, não eu.

O partido deve definir-se, perante si mesmo e perante os eleitores. Que ideias tem para a educação, para a saúde, para economia, para a superação da crise financeira. Contudo, a seguir a uma crítica, tem de vir a medida alternativa, e a seguir à medida alternativa tem de vir a explicação fundamentada para a aplicação dessa medida. Se se disser apenas que se pretende, por exemplo, privatizar um determinado sector da economia, é útil explicar as causas e os efeitos, e sobretudo o contexto em que se insere tal privatização, com o prejuízo de, caso não exista esse esforço pedagógico, a medida soe demasiado «ideológica» e não seja verdadeiramente fértil e acessível ao entendimento dos mais diversos sectores da sociedade. É assim que se fazem reformas, com pedagogia (sem esquecer obviamente a humildade).

E muito gostaria de deixar aqui algumas ideias minhas para a governação de um país sob a égide de um governo social-democrata, mas ficará para uma próxima.

terça-feira, junho 23, 2009

Fé na Razão




Não, não estou a parafrasear o adagio de Santo Agostinho “creio para compreender e compreendo para crer melhor”. Não me refiro aqui à Fé num sentido estritamente religioso, nem à Razão como modo de justificar a Fé.

A Razão tem muitos nomes, muitos meios de ser entendida e abordada. Desde os primórdios gregos do pensamento ocidental que ela existe como contraponto ao irracional, ou noutras palavras ao mitológico. Ou seja, nesses séculos que precederam Sócrates, é posta em prática uma atitude racional intimamente associada ao natural, à explicação e à especulação expurgada de causas divinas ou da ordem do sobrenatural. Pelo menos é o modo como nós interpretamos, embora Tales de Mileto, um dos sete sábios da Grécia e o primeiro dos filósofos especulativos tenha escrito algo do género Tudo está cheio de deuses. Sem esquecer, obviamente, a sua afirmação peregrina de que a água era o elemento primordial. Contudo, esta dicotomia entre mito/razão que tantas vezes invocamos não é tão linear e distinta como gostariamos, ou como se pretende impôr. A partir de Sócrates surge uma outra abordagem (surge ou tem continuidade em diferente grau?) racional, sempre especulativa mas muito mais voltada para a Ética, a Estética, a Moral. O evento Sócrates (quem diz Sócrates diz, em última análise, Platão) marca o nascimento do pensamento conceptual, desmaterializado, descarnado, puro. Obviamente que este tipo de pensamento descarnado, associado à virtuosidade e à justiça, sempre existiu, embora num plano divino e mitológico fundacional que o justificava só por si mesmo. Contudo, embora o pensamento natural tenha estado sempre presente, urge para este novo tipo de pensamento justificar também especulativamente aquilo que possibilita ao homem ser justo, viver uma «vida boa», ser bom cidadão. Ora, o mero estudo do natural e a busca pela physis não determina como deve viver o homem, não lhe dá regras nem orientações para ser feliz. A razão é, neste caso particular, a exploração daquilo que é meta-natural, ou numa palavra mais consensual, metafísico. O curioso, e é disto que se apercebe Platão (digo eu...) é que a razão tem uma espécie de capacidade autónoma para gerar a sua própria matéria prima de pensamento. A razão não pensa no vazio, ela elabora conceitos com os quais joga para formar ideias, raciocínios. Aquilo que terá despertado Platão para a luz no exterior da sua caverna talvez tenha sido a própria matemática. Platão viajou muito antes de ser o grande filósofo dramaturgo, díscipulo fidelissimo do seu mestre Sócrates. Nas suas viagens, Platão conheceu de perto a mitologia egípcia, bem como a hindu, e o que o terá impressionado em grande medida terá sido o modo como os egípcios utilizavam a matemática para contruir templos, noutras palavras, para criar o real. É óbvio que a tradição pitagórica já havia influenciado enormemente o pensamento de Platão, bem como a noção de que a matemática é o modo mais profundo de compreender a natureza e as leis que a regem. Portanto, se o mundo é matemática, como é possível que a Razão humana, por si só, gere os conceitos e a matemática possível para entender a própria natureza, exterior à Razão? O que há na razão de tão íntimo com a natureza última do Universo? É em grande medida esta dúvida circunstancial, nascida da prática matemática, que dá origem à teoria do conhecimento de Platão, e abre caminho sem dúvida a toda a especulação epistemológica que se lhe seguiu até aos dias de hoje. Conhecer é recordar, é uma anamnese daquilo que a razão já conhece pois antes de existir já existia num mundo superior, de essências, anterior e transcendente ao mundo do visível, dos sentidos, que lhe é inferior. Apenas um reflexo torpe e de aparências desse mundo que o transcende. De notar a influência do pensamento hindu, da ideia do Véu de Maya e da aparência do mundo, no pensamento de Platão. Viria a ser Aristóteles, durante muito tempo discípulo de Platão, que viria a provocar a tensão filosófica necessária para projectar a especulação filósofica em direcção aos séculos dos séculos. Se Platão era um Idealista, um crente nas formas puras, nas ideias e na superioridade de um mundo metafísico em relação ao sensível que, em boa verdade, nem sequer tinha consistência ontológica própria (não existia independentemente de outra substância), Aristóteles era em grande medida um Realista. Embora não descurasse a importância da Razão (é a Aristóteles que devemos a definição do homem como animal racional) este pensador era, antes de mais, um naturólogo. Era um adepto da experimentação, pelo que são vários os seus escritos sobre anatomia, botânica, zoologia. Ao contrário de Platão que só consideraria dignos de estudo as formas puras, através da geometria e da matemática, Aristóteles considerava que também os objectos da natureza eram dignos de análise e compreensão. Na verdade, não acreditava que existissem formas puras, ou noutras palavras, essências sem o correspondente concreto na natureza. Aliás, as ditas essências não eram na verdade transcendentes aos objectos, mas imanentes a eles. Uma casa não era um correspondente participante da casa ideal que existe no mundo das ideias, mas faz parte de uma espécie ou género a que se chama casa. E a consistência ontológica da casa não emana de um mundo supra-sensível, mas da própria definição. São os objectos individuais que dão origem à definição, à substância. Noutras palavras, é mais importante a substância individual (um homem por ex.), do que a substância humanidade, que corresponde a um género, e os géneros são substância em segundo grau. Para Platão não seria assim. A Humanidade como substância é a única verdadeiramente válidade e verdadeira, é na verdade da Ideia de Homem que todos os homens individuais vão beber a sua própria consistência ontológica, a sua existência, através da participação.

Contudo, não é dos conteúdos das teorias que estamos a falar, mas da razão e das várias formas que assumiu ao longo dos séculos.

O pensamento medieval é herdeiro, em grande medida, desta tensão entre Platão e Aristóteles. Obviamente, a Fé e não se colocava em causa, nem a Biblia como fonte de verdade. O objectivo do pensamento medieval foi o de adaptar o pensamento grego aos trâmites da religião, justificá-la e dar-lhe uma consistência racional que efectivasse o domínio do pensamento cristão sobre o pagão. A razão especulativa que estava na base do pensamento medieval era a de uma metafísica da Fé, arredada de naturalismos, com a excepção talvez de um Occam, ou de um Nicolau de Cusa que tentaram nadar contra a corrente dominante.

A partir do séc. XV, com o evento do renascimento, da imprensa, dos descobrimentos, há um renascimento, ou seja, perante uma nova abertura, uma nova liberdade de pensamento e um acesso mais alargado aos escritos greco-romanos, o pensamento assume uma nova forma a vários níveis. Voltou-se a dar valor ao pensamento natural, à matemática, à reflexão empírica. Apareceu um Galileu, um Da Vinci, e no séc. XVII um Newton, um Kepler, um Leibniz, um Descartes. Deu-se a Reforma da Igreja com Lutero, com Calvino, com a heresia de um Henrique VIII e a reforma anglicana. Deu-se a feroz resposta de uma Igreja ameaçada – a Inquisição. Foi profunda e vasta a revolução, quase que se poderia dizer que a revolução foi coperniciana, fazendo jus a Copérnico e à importância fundamental, não só a nível científico, mas também social, político e humano, do acto de retirar o homem do centro a atirá-lo para a periferia de um sistema em que o sol era o rei. Que tipo de razão surge nestes séculos? Podemos falar já em razão científica, ou noutras palavras, numa razão metódica e empírica. O pensamento metafísico sempre lá esteve, e podemos inclusive afirmar que Descartes inaugurou esta nova forma de pensamento. Descartes, com a sua dúvida metódica refundou os alicerces do pensamento, procurando em certa medida conjugar a metafísica com a ciência, tornando-a ela mesma (a metafísica) numa ciência. Se por um lado procurou encontrar um método infalível para as ciências, por outro, procurou também provar que a metafísica se basta a si mesma, e que a verdade fundacional (dúvidamos, pensamos, logo existimos) não precisa de dados sensíveis ou exteriores ao pensamento para ser atingida. Determinou também (e aqui parece haver uma espécie de conciliação milenar entre conceptualizações) o mundo extenso e o mundo das ideias (no caso de Descartes falamos em coisa pensante [res cogitans] constituida por ideias inatas) não precisam um do outro para terem consistência ontológica. São substâncias autónomas e independentes.

A razão metódica passa também pela invenção do método experimental nas ciências. Durante muito tempo as posições extremaram-se. Alguns, adeptos incondicionais das ciências e do empirismo, negaram qualquer possibilidade de conhecimento inato proveniente da razão (Locke, Hume). Descartes, por outro lado, era um verdadeiro racionalista, crente no poder da Razão para conhecer a abstrair do real a verdade do mundo, sobretudo através da matemática.

Nos dias de hoje, a Razão é acima de tudo método científico. A filosofia continua a ter um papel fundamental como motor de pensamento, como escrutinador de todas as actividades humanas, seja na ciência, na política, na religião. Para tal, já Popper, afirmou que a ciência verdadeira implica que as proposições que dela emanam sejam verificáveis, falsificáveis e refutáveis. Ou seja, está na base do próprio pensamento científico e da sua fiabilidade, o facto de poder ser posto em causa. Para Popper, toda a forma de ciência que não cumpra estes requisitos é pseudo-ciência ou pior. O autor não põe em causa a metafísica em si mesma, que considera necessária e válida, mas a metafísica que pretende ser ciência. Ele afirma também que os problemas filosóficos são legítimos, e emanam em grande medida de dúvidas e problemáticas que surgem no decorrer da prática científica, religiosa, política, ética, e de tudo o que estas dimensões implicam para o progresso da sociedade humana. Contudo, tais problemas têm por vezes soluções muito simples, arredadas do processo metafisico, por vezes propostas pelo progresso da ciência. Os problemas filosóficos podem ser, em última análise, problemas cientificos, e como tal, terem uma resolução científica. Por exemplo, a questão da mente e do processo do conhecimento teve, nas últimas décadas, importantes contributos a nível da neurociência, seja com a chamada «epistemologia naturalizada» de Quine, seja com o contributo do nosso tão português António Damásio com os seus estudos acerca das emoções e dos processos cerebrais nelas envolvidos. Para tal vale a pena ler O Sentimento de Si, ou o Erro de Descartes, escritos pelo mesmo autor.

Afinal, o que é a razão? A razão parece ser a faculdade humana do julgamento, do raciocínio, e em última análise, da decisão. Nos dias de hoje, a robótica, a ciência da computação, está novamente a procurar recorrer à filosofia para entender o que é a razão, como funciona, quais os seus limites, e de que modo esta pode ser reproduzida a nível tecnológico. É a tal Inteligência Artificial. De resto, a tendência natural, ao longo dos séculos tem sido a fragmentação da filosofia em inúmeras ciências e disciplinas, bem como o quase fechamento sobre si mesma numa tentativa solipsista para se auto-compreender. Afinal, não era esta a filosofia hegeliana? O Espírito (pensamento) procurando compreender-se de forma cada vez mais elevada até à síntese final, e ao fim da história? Em última análise, todos utilizamos essas faculdade de julgamento todos os dias, sem sequer termos disso consciência. Contudo, temos também consciência da falibilidade da razão, e do modo como os erros de pensamento podem conduzir-nos ao caos e à confusão. Contudo, porque continuamos a acreditar tanto nela, ou melhor, como é possível que continuemos a ter tanta FÉ NA RAZÃO?

terça-feira, junho 16, 2009

Mais um daqueles pensamentos fulminantes que se apropriam de nós - Quem nunca desejou ser tudo o que nasceu para ser?

Porque nunca é demais pensar e reflectir (e para não se dizer que este blog perdeu a sua vocação original de espaço de pensamento) fica mais uma daquelas notas repentinas. A nobreza do desejar tudo, e querer ser tudo o que se nasceu para ser...


Não há nada mais nobre do que desejar tudo! Tudo sonhar, tudo ansiar, com a vontade profunda, calma e silenciosa daquele que sabe desejar verdadeiramente, e cujos objectos de desejo mais não são do que calmas e geométricas formas puras, sonhos e metas legítimas e gloriosas. Porque querer tudo não é o mesmo que querer todas as coisas, nem é o mesmo que querer só por querer, ou para ter, ou para parecer que se tem, ou para se preencherem vazios existenciais com o lixo nauseabundo que define a pobreza de espírito. Quem quer verdadeiramente não deseja mais do que o cumprimento da sua própria grandeza, no início só potência mas que anseia por ser acto, ou no início só essência que anseia por existir. Atingir os limites de si mesmo, contemplar-se do alto, subir ao céu que se é, e amiúde se ignora. É-se o Universo, é-se força infinita, é-se poder verdadeiro, tudo comprimido e condensado numa amálgama pensante de carne e dúvida. Nasce-se acreditando que se é pequeno, que se é frágil e impotente, e enforma-se a própria vida de acordo com o que se pensa, e sobretudo com o que se aprendeu a pensar. Pode ser-se tudo, pode sonhar-se alto, muito alto, com a glória dos deuses que não se fecha ao homens, pois que é o homem feito às suas imagens. Pode fazer-se, construir-se na pedra com alicerces graníticos, fundar-se na rocha o edifício do que se é, e terminar apenas quando este arranhar o céu para onde aponta, fálico e viril, pronto para penetrar no Infinito e gerar mundos novos, civilizações, morais, mistérios profundos, humanidades. Não é só o querer que é poder, mas também o saber, o pensar, e sobretudo o sonhar audaciosamente. O homem só se religa à divindade para nele mesmo reconhecer a divindade que em si habita. É essa a religião verdadeira, aquela que move montanhas e conduz o homem há libertação de todas as correntes que o aprisionam desde o início dos tempos. O homem só se reconhece naquilo que é, quando se deixa penetrar pela profundidade do mistério que largamente o ultrapassa, milhares de milhões de vezes o ultrapassa, mas que em última análise lhe está no sangue e se chama Alma.

segunda-feira, junho 15, 2009

4 anos e 157 publicações depois...



Pois é. O dia 13 de Junho, Sábado, teve três significados importantes. Em primeiro lugar, marcou os 121 anos do nascimento de Fernando Pessoa, um dos maiores ícones da literatura e da cultura portuguesas. Em segundo lugar, marcou mais um dia de Santo António, símbolo da fé e da portugalidade além fronteiras, pelo seu mérito de conversor e diplomata, mesmo entre os muçulmanos que também o adoram como se fosse seu. Em terceiro lugar, (não menos importante) marcou os 4 anos deste meu espaço. 4 anos e 157 postagens depois, é grande a diferença a nível de forma, conteúdos e maturidade em relação a 2005.

Agradeço a todos os que acompanharam este blog desde o início, sem esquecer obviamente os que o descobriram mais tarde e que dele se tornaram fiéis leitores e seguidores.

O meu sincero obrigado.

Ruben Azevedo

quinta-feira, junho 11, 2009

10 de Junho - (nas palavras de alguns dia do trabalhador!) - O Império das 27 maravilhas


Ontem, dia de Portugal, de Camões, e das comunidades portuguesas, foram divulgadas as 7 maravilhas de origem portuguesa no mundo. A votação decorreu de 7 de Dezembro de 2008, a 7 de Junho de 2009. Não se sabe se abstenção foi grande ou pequena, mas aventuro-me a especular que terá sido bem mais significativa que a das europeias. Se existe quem não saiba sequer o significado do 10 de Junho (durante uma entrevista na rua alguém respondeu que era o dia do trabalhador!), é normal que haja quem não tenha qualquer tipo de interesse no património ou na história de Portugal. Para muitos, o 10 de Junho é mais um excelente feriado para passar o dia no shopping, ou (se o tempo ajudar) na praia.

Contudo, esta iniciativa das 7 maravilhas de origem portuguesa no mundo teve o condão de mostrar o quanto fomos, a certa altura da nossa história, ubíquos e influentes em toda a parte. Tivemos a hegemonia dos mares e do comércio durante 150 a 200 anos, mas acabámos por ser ultrapassados e a até certo ponto subjugados por outras potências europeias com maior potencial bélico e humano, nomeadamente pelos ingleses e pelos espanhóis. Mas o que é admirável no meio disto tudo é o facto de sermos, na época, menos de 3 milhões de portugueses, e de termos sido a primeira potência mundial a lançar as bases de um império, e a última a perdê-lo. Com isto não quero expressar nenhum tipo de saudosismo nacionalista ou passadista. É apenas pura curiosidade intelectual. O império nasceu com a tomada de Ceuta em 1415, e terminou, 587 anos depois, com a independência de Timor Leste em 2002. Quantos portugueses sabem isto? É óbvio que uma visão demasiado romântica sobre os descobrimentos esconde outras realidades menos românticas. Também pilhámos, subjugámos pela força, convertemos com a bíblia numa mão, e o chicote na outra. No entanto, fomos talvez dos menos maus entre os maus. Não foi nunca nosso hábito o extermínio e a chacina, e sempre fomos mais adeptos do diálogo do que da imposição cega. Tivemos um Padre António Vieira, símbolo da diplomacia e da defesa dos oprimidos, que sempre cultivou uma atitude de tolerância e pedagogia perante os ditos «selvagens» do Brasil. E Vieira é apenas um exemplo possível.

De todos os locais do mundo onde estivemos e onde deixámos marcas, tanto físicas como a nível dos hábitos e costumes, admirou-me a fortaleza de Ormuz, no Irão, em pleno estreito de Ormuz. Hoje fala-se muito no estreito de Ormuz, em parte por ser um ponto estratégico por onde passam diariamente toneladas e toneladas de barris de petróleo, e por ser um ponto quente de discórdias latentes entre as grandes potências e o Irão. Pois é. Nós fomos os primeiros europeus a lá chegar e a controlar, a partir de lá, as rotas marítimas entre a Ásia Central e a Europa. Tive pena que não fosse esta uma das 7 maravilhas escolhidas, não tanto pelo aspecto estético da fortaleza, mas por aquilo que ela representa.

As 27 maravilhas portuguesas, espalhadas por 16 países, são as seguintes:

Centro Histórico de Malaca
Sé Catedral de Goa
Convento de St. António e Ordem Terceira
Fortaleza de Mazagão
Ilha de Moçambique
Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro
Fortaleza de Kilwa (Quíloa)
Forte do Príncipe da Beira
Convento de São Francisco e Ordem terceira
Convento do Carmo de Luanda
Cidade Velha de Santiago
Gorgora Nova
Mosteiro de São Bento de Olinda
Igreja de São Francisco de Assis da Penitência
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos
Fortaleza de Safi
Colónia do Sacramento
Fortaleza Qal’at al Bahrain
Igreja de São Paulo
Igreja do Bom Jesus de Goa
Fortaleza do Bom Jesus de Mombaça
Cidade de Baçaim
Fortaleza de Damão Grande
Fortaleza de Diu
Fortaleza de Ormuz
Fortificação de Mascate
Fortaleza de São Jorge da Mina

Para mais infomações e para conhecerem também os vencedores, não hesitem em clicar aqui

segunda-feira, junho 08, 2009

Vitória a saber a social-democracia



A vitória do PSD era tudo menos previsível, sobretudo naquela dimensão e contra a maioria das sondagens. É óbvio que estas eleições capitalizaram todo o descontentamento contra o governo e a sofreguidão de quatro anos de reformas duras, anti-corporativas, pouco concertadas e, quase todas elas, inacabadas. Nunca um governo teve um desgaste tão grande em quatro anos! Parece que Sócrates já está no governo há 8 anos, parecem ter já passado dois mandatos consecutivos, tal é o desgaste que a sua imagem tem levado perante a contestação social, dos professores, dos agricultores, das polícias. A imprensa tem também a sua quota de responsabilidade no cartório, empolando, reavivando, trazendo a lume suspeições, freeportes, casas da beira, licenciaturas mal amanhadas ao domingo, primos amantes de kung fu. É caso para dizer que a imprensa livre não dá descanso ao primeiro-ministro! Por um lado, é esse o papel da imprensa independente numa democracia saudável. Por outro, é preciso ser de aço para resistir às investidas e a um escrutínio tão rigoroso.

Um percentagem de 63 por cento de abstenção é só por si uma vergonha, e não abona em nada a mudança que se pretende para Portugal. Contudo, daqui é possível fazer uma análise para as legislativas. Se tivermos em conta que em relação à esquerda e ao seu eleitorado tradicional, pouca ou nenhuma abstenção existe (e com esquerda quero significar desde a CDU ao PS, passando pelo BE), seja pelo facto das suas máquinas partidárias serem melhor oleadas, ou de haver um certo sentido de dever e militarismo que não existe no centro, ou mais à direita, é bem possível que, a existir uma menor abstenção - como é de esperar - nas legislativas, o PSD e o CDS poderão não só manter, como subir nas intenções de voto, o que já torna o cenário da vitória do PSD nas legislativas possível, ainda que sem maioria absoluta. Será, quase certamente, a reedição da coligação PSD/CDS de há alguns anos. Será mau? Será pelo menos preferível ao caos de uma vitória minoritária do PS. O PS está sozinho, não tem aliados nem parceiros a quem recorrer. Nem o BE nem a CDU se querem deixar contaminar com uma possível parceria pós-eleitoral com o PS. São demasiado diferentes, e exigiria de Sócrates uma viragem de leme que se advinha radical. Seria coligação de pouca dura. Com o CDS? Nos tempos de Soares e Freitas do Amaral, não deu resultado. Daria agora? Com o PSD? Bloco Central? Talvez fosse mais plausível, sobretudo em pontos chave como a justiça, mas também me parece uma parceria difícil, talvez condenada à partida. Uns querem obras públicas, outros não. Estilos diferentes, práticas diferentes, mundos diferentes. Sócrates não está habituado a partilhar, não é o seu estilo. Provavelmente, perante uma minoria ou a necessidade de acordos vastos, eu até acreditaria que Sócrates apresentasse a demissão. Num país como o nosso em que a oposição, salvo raras excepções, é irresponsável e conflituosa, dificilmente um governo minoritário sobrevive. E do que o país precisa é de estabilidade e de um governo capaz de levar a cabo reformas até ao fim. Isto é muito importante: até ao fim. Precisamos de mais serenidade, de responsabilidade e coragem. Precisamos de aprender a ter objectivos comuns, e todos os intervenientes a nível nacional, desde a imprensa (pública ou privada), às empresas, às instituições, à própria sociedade civil, têm de aprender a cooperar e a remar para o mesmo lado, em vez de cada um puxar a brasa para a sua sardinha numa conflitualidade sem fim.

domingo, junho 07, 2009

Notas sobre o dia de hoje



Já cumpri o meu dever de eleitor. Eram 10 horas estava na Maia para votar, e fiquei agradavelmente surpreendido ao ver a quantidade de gente que ia e vinha das mesas de voto. Contudo, achei que os boletins de voto estavam demasiado simplistas. Referem apenas e unicamente os partidos envolvidos na cena eleitoral, sem referir os cabeças de lista a deputados. Infelizmente, grande parte das pessoas, sobretudo as menos informadas, as mais idosas ou até as mais novas, não associam as personalidades aos partidos que as representam. Outras, votam no partido como se de um clube do coração se tratasse. Votam no PS, ou no PSD tão naturalmente como ir à missa, e pura e simplesmente porque sempre o fizeram, como um ritual de longa data. Isto desresponsabiliza as personalidades e esvazia o voto de sentido. O boletim deveria referir, em primeiro lugar, o nome do cabeça de lista, e em segundo lugar, o partido que lhe serve de base de apoio. Claro que por uma questão de facilitismo (deve ser para poupar papel) colocam-se só os partidos. Pode ser que os mesmos boletins sirvam também para as legislativas. Escusa-se imprimir novos boletins a cada eleição... porém, isto é errado. Cada eleição é uma eleição, e cada homem ou mulher é diferente, embora reflictam nas suas acções, até certo ponto, a ideologia do partido onde estão inseridos. A democracia tem de ser mais activa e informada, e não apenas um ritual processional de 4 em 4 anos. Quanto à abstenção, que não considero augurar nada de bom, já enviei sms a quase toda a gente a apelar ao voto. E não me venham dizer que democracia é também escolher não votar, porque a história está cheia de gente que morreu, se sacrificou, foi torturada em nome desse direito simples de colocar a cruz no boletim, e o boletim na urna. Remeto esta minha chamada de atenção sobretudo às mulheres...

Quanto à fantástica sondagem que teve lugar neste blog, é curioso verificar que dos 34 votantes, 11 votaram no Miguel Portas (o vencedor), e o pretenso favorito a nível nacional, o sr Vital, teve apenas 1 voto... a verdade é que também não conheço bem a amostragem, nem sei se será suficientemente significativa em termos de espectro partidário, mas se estes resultados se reflectirem também a nível nacional... Desde já agradeço a todos os que votaram, fazendo votos para que passem a ser visitantes assíduos deste meu espaço.

Em última análise, acredito que ser político é das formas mais nobres de se ser intelectual. Aqueles que dizem que ser a-político é que é intelectual e digno de uma alma que não se quer conspurcar e prefere manter-se na sua torre de marfim, estão bastante equivocados. Mas também para esses, envio o meu abraço sincero. Sou marxista, mas apenas num e só num ponto: já há muito quem interprete o mundo (e deixem-me que diga que muitos o fazem, ou fizeram, mal); o que é preciso é mudá-lo.

sexta-feira, junho 05, 2009

Faltam 24 horas para terminar a sondagem. Se ainda não votou, vote!

Uma sondagem publicada no JN de hoje dá a vitória ao PS com 34 por cento dos votos, seguido do PSD com 32%, a CDU com 11%, o BE com 10%, o CDS com 4%, e os restantes votos polvilhados pelos partidos mais pequenos, dos quais o MEP é a maior revelação com 2% dos votos.