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segunda-feira, setembro 08, 2008

PSD em coma profundo




A cada dia que passa, o PSD parece morrer um bocadinho. Esvaziado de ideias, fragmentado em milhentos cacos, com oposição interna visível, como uma ferida aberta, exposta ao público. O PSD parece estar ferido de morte. Mas até os feridos de morte, por vezes, se regeneram ainda com mais força e vigor.

Os factores para esta morte lenta do PSD são muitos. Na minha perspectiva, esta morte começa no afastamento prolongado do poder central. Em 33 anos de história, o PSD esteve 16 anos no governo. Inevitavelmente, este apego governativo influencia as estruturas de um partido, molda a sua forma de trabalhar, de agir e pensar. O poder une o partido, dá-lhe um motivo para existir e, inevitavelmente, sustenta esta união na base de alguns interesses que se deixam seduzir pelo doce odor do poder.

Subitamente arredado do poder, o PSD tende a comportar-se forma diferente, secciona-se e divide-se, tantos e tão diversos são os interesses que o constituem. Infelizmente, a tendência liberal do partido é como um íman para interesses económicos que, à distância do poder, longe da expectativa do interesse, não só deixam de unir o partido como o abandonam, esvaziando-o e tornando-o inócuo. Começou por ser um partido de ideologia, de marca, de carisma. Mas progressivamente foi perdendo a ideologia e o carisma, para dar lugar ao «bloco de interesses». A ideologia passou a ser nenhuma, e na capa desse contraditório de que o partido tanto se orgulha esconde-se e mascára-se esta falta de fio condutor e de meada, que o partido já perdeu há muito. Durante a meada do poder, o progresso, o desenvolvimento, a democratização, eram de facto razão e sentido para a sua existência. Terminado o poder, os interesses deslocaram-se, emigraram para outros forças políticas onde poderiam ser correspondidos. Deslocaram-se para um PS, que é hoje, não só uma sombra do que foi e um constante carnaval ideológico, como o principal defensor dos interesses económicos, financeiros, políticos que, em tempos, estavam sob a guarida do liberal PSD.

A maior desgraça do PSD é ser obrigado a fazer oposição. A desgraça do PSD é ter que dar a entender à opinião pública que se opõe ao governo, mesmo quando não sabe escolher entre o mais semelhante e o menos semelhante do pensamento dos dois partidos. O ideal seria o partido de facto dizer perante o povo «não vale a pena falar por falar, fazer oposição ao que não tem oposição porque estamos de acordo, por isso, vamos reduzir-nos a uma profunda insignificância, e só falar quando valer a pena.» E não é o que se tem passado? Não será este o pensamento mais profundo da líder actual, Manuela Ferreira Leite? Mas porque, por qualquer lei ainda não bem entendida o PSD tem mesmo de se opor, de fazer malabarismos para mostrar que é diferente e alternativo, então que se oponha com minúcia, com o cuidado de quem se quer manter credível, e quando atacar esta ou aquela proposta o faça não de forma gratuita e irresponsável, mas com uma crítica no bolso esquerdo, e uma alternativa concreta no bolso direito. Lembro-me por exemplo da crítica que o PSD de Marques Mendes soube fazer ao aeroporto da OTA, alternando de seguida, com uma proposta que tempos mais tarde, se revelou vencedora. À distância de um ano e pouco, vê-se que Marques Mendes até não era um mau político…

O PSD deve mostrar-se alternativa, mas não deve querer inventar uma sobre a pressão dos média e do desespero da sociedade. O melhor que pode fazer, é mostrar-se uma reserva para tempos vindouros, uma espécie de guarda ou polícia, pronta a intervir perante uma crise profunda, ou qualquer falha grave do governo que estiver no poder.

Bem vistas as coisas, o PSD não está morto. Está apenas em coma profundo.

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