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quarta-feira, novembro 15, 2006

Ao jeito dialéctico

Colocarei uma questão à qual me esforçarei para dar resposta. Deus existe? Comecemos muito devagar, com passos breves mas sólidos. Em primeiro lugar devemos definir Deus e existência. É verdade. A pergunta só vale se soubermos ao certo o que entender por Deus, e o que entender por existência. Poderemos chegar a dois caminhos distintos. Um dir-nos-á que a pergunta de facto é absurda, e nunca se poderá pô-la nestes termos; o outro dar-nos-á, senão uma resposta, pelo menos uma proposta humilde de resolução. O problema começa na definição de Deus, e se de facto Deus pode sequer definir-se. Se por um lado ele de facto existe, então cabe-nos perceber se a definição que dele possuímos, ou a ideia que dele possuímos de facto corresponde ao Deus real. Se não existe, cabe-nos entender então se o que existe é Deus, ou uma ideia profundamente enraizada, ou até várias ideias enraizadas dele. O problema desta questão é que nunca de facto perceberemos se Deus é de facto Deus, enquanto não respondermos à primeira das questões que propus. Responder à primeira das questões implica responder a uma vasta panóplia de outras questões. E porquê? Porque, a existir, Deus não é uma realidade a que se tenha acesso facilmente, como uma árvore, uma maça, um homem. Estamos formatados para pôr em questão tudo o que não se apresente de forma imediata, palpável, mensurável. Faz-nos uma enorme confusão que algo possa fugir à régua, ao esquadro, que algo possa ser tido como existente quando nunca foi medido, registado e anotado numa categoria aceite universalmente. Falo de ciência. Porque relatos da visão de Deus existem em todas as religiões. E aqui provavelmente já estou a pecar, pois já estou a alargar Deus a todas as formas de adoração. Neste sentido, e porque quando se afirma também se nega, já estou a negar um conceito de Deus mais fechado, como o é o Deus dos Cristãos, ou o dos muçulmanos, ou dos judeus. Busquemos a essência das religiões monoteístas e de forma quase imediata encontramos o mesmo Deus. E os hindus? Nos hindus temos o Absoluto de onde tudo emana: Brahma. No budismo temos o quê? Alguns dizem o Nada e negam que se possa falar num Deus. A mim não me parece, pois o budismo não é mais do que uma das muitas formas de hinduísmo. O hinduísmo vem há séculos clamando pela libertação, pela iluminação, pelo Nirvana. O Budismo é sobretudo uma doutrina que resulta de um caminho que um homem fez em direcção ao Nirvana. Esse homem mais não fez do que cumprir o mandamento hindu da compaixão, ensinando o seu caminho a outros. Então, podemos afirmar que nestas que são as principais religiões está presente uma entidade. Em traços essenciais, quais são as características desta entidade? Todas as formas de adoração reclamam a sua existência. É criadora, não criada, portanto, eterna. Revela-se a seres humanos especiais: os profetas, os imãs, os bodisatvas. Mas, sem me alargar pela definição e pela história das religiões, é importante que volte ao caminho de onde vim. Deus é incognoscível? Se o for, nada o poderá provar, no verdadeiro sentido. Está fora de qualquer conceptualização. Nada feito. Se Deus for cognoscível, conceptualizavel, qual o sentido da Fé? Qual o sentido do Mistério? Devemos de facto eliminar a dimensão do Mistério considerando-a apenas uma deficiência, a manifestação de uma falta a suprir no conhecimento do Deus, ou como uma importante dimensão da relação que temos com o divino? Se assim for, põe-se de facto a hipótese, não só da absoluta impossibilidade de conhecer Deus no sentido ontológico das categorias racionais, mas sobretudo da impossibilidade de separar Deus do seu Mistério, ou da Fé. Se assim não for, e Deus for tão cognoscível como um planeta ou uma árvore à espera de uma taxinomia que a faça pertencer ao panteão dos fenómenos observáveis, devemos então questionarmo-nos sobre a incapacidade da nossa razão em ainda não ter descoberto nada. Afinal o que pode estar a falhar? Muita coisa. Em primeiro lugar podemos estar enganados acerca do objecto que procuramos. Em segundo podemos não estar a procurar de forma correcta. Em terceiro lugar podemos não só estar enganados acerca do que procuramos, como não estarmos sequer a procurar da melhor maneira. No fundo podemos estar na demanda de uma ilusão, como cavaleiros do Graal, ou então a ilusão esteja na forma como procuramos. Por ventura, talvez nem devêssemos procurar…

Existência. A existência do latim «ekxistere» implica uma presença, a admissão por parte de um sujeito de um objecto definível, qualificável. Não nego porém a outra possibilidade: existe também o que não foi admitido e apercebido pelo sujeito, pelo menos como uma possibilidade de ser. Existir é no fundo a concretização de uma realidade, embora essa realidade possa ter dimensões variadas consoante os sujeitos que as apercebem, as suas intencionalidades, os seus valores. Quando alguém nos pergunta...

Continua...

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