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sábado, junho 25, 2005

Li e sei...

Li que há subtís actos de amor que destroem templos...
Li que o orgulho nada pode contra a bondade...
Sei que há quem tenha tudo,
e na verdade não tenha nada...

Sei que que há quem chore à noite na almofada,
porque o véu da aparência não permite que o faça de dia...
Sei que em cada um de nós há uma eterna angústia,
que se revela no silêncio e no escuro da noite...
Em cada um de nós há coisas por fazer:
Há lutos por viver; coisas por sentir;
Tristezas por chorar...

E quando estamos sós no silêncio da noite,
esse fardo do não-vivido pesa-nos nos ombros,
e choramos...

Oh adultos decadentes que nos tornámos!
Cascos envelhecidos adiando sempre a liberdade...
Somos crianças...
Crescemos, ficamos altos,
curvamos eternamente a cabeça sob o peso esmagador das responsabilidades, mas o olhar
é sempre o mesmo...

O que muda é a forma de rir
e de chorar!

Ao medo infantil opômos o véu da confiança;
Às lágrimas fáceis opômos sorrisos resignados e complacentes...
Mas no fundo todos queremos acreditar em contos-de-fadas...
Todos queremos acreditar que os conflitos terão um fim, e de mãos dadas
atravessaremos o bucólico jardim - o éden perdido da nossa infância-!

(E porque não o deserto?)

Porque na verdade todos queremos ser olhados nos olhos como iguais,
e que nos apertem a mão com calor e limpidez de espírito...
No fundo todos desejamos um mão forte que nos apoie,
quando mais incautos tropeçamos nos obstáculos do caminho nem sempre fácil,
sem sempre belo,
nem sempre à luz do dia,
muitas vezes à chuva...

E tudo isto é possivel

Nada se vende;
Nada se compra;
Tudo se dá,
como a criança ingénua que oferece de boa-vontade o rebuçado peludo e peganhento que encontrou no bolso das calças...

Deixemos cair o véu...
O rei há muito que vai nu!
Volta criança suprema,
Imperador do Mundo!

segunda-feira, junho 20, 2005

Passam as horas

Passam as horas na minha realidade... Na minha sim, pois o tempo assim como tudo o que é humano, é subjectivo.
Onde vou; de onde vim; para onde vou - questões pertinentes e sensatas! Quem sou eu? - Eis a questão que tudo engloba! Não é isto que procuramos desvendar com a nossa filosofia, a nossa ciência, o nosso cogitar? Dizia A. da Silva «Ciência, Arte, Filosofia. Tudo ilusórias formas de agitar-se.»! Andam todas as formas buscando a intuíção original que lhes deu origem. O amor... esse liga-nos à terra e ao existir material; o resto busca a essência, o élan vital de todas as coisas. Dizem esses que se auto-intitulam «existêncialistas ateus» atrás da justificação da sua existência perante o absurdo. Talvez devessem compreender que o absurdo está única e exclusivamente nas suas cabeças, de onde vem também toda a noção de separado, de vário e de aparência. Compreende primeiro o Eterno para depois entenderes o temporal - eis o segredo. Só depois de entenderes a Grande Máquina e a sua razão de existir compreenderás a função da peça, e o seu enquadramento. Digo-te para que melhor entendas: conhece-te a ti mesmo para que, quando quando tiveres conhecido todo o Universo tenhas conhecido a totalidade. Sei que há algo parecido no evangelho de S.Tomé. Vale a pena ler as citações lá escritas, que são os preceitos do verdadeiro cristianismo...ou catolicismo no sentido grego da palavra.
A ideologia universal renega o ídolo; a ele não se presta adoração senão à universalidade que lhe está inerente. O credo que une todos os credos é a síntese suprema ligada pelo espírito, e não pelo mero ritual, que não é mais que vaidade e síntoma da vontade de domínio.

sábado, junho 18, 2005

Um dia destes EMIGRO!

Viva as classes dirigentes que são o orgulho nacional!
Viva os senhores doutores, seus belos audis e os sapatinhos de berloque!
Que belo quadro que é ver o doutor de férias nas Seicheles, e a velhinha viúva e carcomida às contas com o dinheiro da reforma para comprar medicamentos
- sem esquecer que se diminuiu nas comparticipações -!
Aí a moral...
A honestidade, a verdade,...aí como é bonito ver a senhora pita de tal
a dizer que tem peninha dos velhinhos e das criancinhas em África,
e a seguir mostra a sua nova colecção de sapatos gucci,
enquanto nos fala de como ficou irritada porque não foi fotografada na festa da outra pita de tal... aí que bonito!
Os senhores doutores juízes, sempre tão bem postos nos seus belos nomes,
tão honrosos e pomposos,
quais bravos cavaleiros defensores da justiça...
Como vão poder eles defender e cumprir a justiça com férias de um mês?
E os senhores deputados, sempre tão convictos na defesa daqueles que representam,
que até adormecem em pleno plenário...tão cansadinhos!
Como vão poder representar-nos sem reformas vitalicias?
Afinal eles têm um estatuto a manter...
Como vão manter os seus bmw´s? Como vão manter a casa em Vale dos Lobos?
É uma injustiça!
E os senhores professores...
Sempre tão preocupados com os seus alunos,
capazes de passarem noites em branco a pensar nos seus discípulos...
Como sobreviverão sem promoções?
Como sobreviverão sem lhes ser aumentado o ordenado de 250 para 300 contos?
É muito dificil!
E de facto os alunos é que têm culpa...
Têm que ter muita peninha dos senhores professores,
se for preciso sacrificarem os exames e as entradas na faculdade...
Afinal para o ano há mais exames, e o estado tem dinheiro que chegue para pagar isso tudo!
Enquanto isso cortem-se às reformas dos que não conseguem que o dinheiro chegue ao fim do mês,
corte-se no financiamento ao ensino público e à cultura,
façam-se galas, festas e jantares, onde a nata burguesa e podre da sociedade se possa exibir,
e falar muito mal do governo entre copos de martini e elogios às toilletes!
Sobretudo façam-se muitas greves,
pois são elas que produzem e fazem jus à democracia
-é preciso fazer valer as conquistas de Abril-!

Merda de país! Merda de gente!

Um dia destes emigro!

quarta-feira, junho 15, 2005

escrito num guardanapo, à mesa de um café ordinário... para ti.

Anjo negro...
No escuro profundo de teus olhos
Busco-me a mim,
Como outrora outros buscaram no mar profundo
Mundos sem fim,
Onde pudessem na terra virgem
Desvelar
A pureza original,
E a liberdade.

Deixaste o céu.
Na terra encontraste o teu mundo
- ou criaste-o -
E eu que sou terreno e mortal
Estou á distância,
Procurando a tua verdade
Através de palavras fúteis e convenientes...

Mas continuas velada...
Penso em segurar a tua mão
Mas não me atrevo...
Sou impuro.
E tu, velada de negro
És feita de pureza
E de inocência!

Guardo a tua imagem no meu templo sagrado
Como um vitral...
- não te toco -
contemplo-te recolhido
e em silêncio,
nesse teu mundo de cristal.

terça-feira, junho 14, 2005

Apelo à Metanóia ( para os jovens, politicos, e enfim...para todos)

Acredito, acreditarei, e espero que todos venham a acreditar, que a verdadeira revolução e aquela que será realmente duradoura, não advém das instituições (ou virá mas apenas como meio), mas advirá das mentalidades!
Falo-vos da Metanóia.
As instituições podem modificar-se eternamente, seja por meios revolucionários ou revisionistas. No entanto, se as mentalidades e os espíritos não estiverem cheios e não sofrerem eles mesmos uma iluminação e uma tomada de consciência, os problemas de hoje serão os problemas de amanhã e de sempre, seja qual for o regime político e económico.
É pelo espírito que se pode mudar o mundo.
Independentemente do regime sob o qual estejamos sujeitos (socialista, capitalista, comunista, liberal ou totalitário), se num rompante de inspiração transformar-mos a nossa visão e as nossas crenças sobre mundo, então a sociedade – indivíduo a indivíduo – será forçada a mudar!
É necessário tomar consciência como que metafisicamente de uma nova mundivisão. Uma visão tão ampla que contenha todos os credos, ideologias, partidos, tornando-se assim universal. Não queremos maniqueísmos. A genialidade não está na especialidade, nem no partido, nem na ideologia; está pois na síntese de tudo!
Deixem-me que vos diga: chamem-me o que quiserem – budista, hindu, místico -. Sou tudo isso e mais ainda... sou Universal!
Quando se aceita uma tese ou ideia, há dois caminhos a seguir: o da extremização (mau por considerar a Verdade como uma parte desligada do Todo); o da ampliação (bom por abrir a ideia a melhoramentos, fusões, integração em paradigmas maiores). Prefiro este, pois considera a Verdade universal, e por isso transversal. Eis o espírito da Metanóia!
Temos também, como que numa experiência mística, de tomar consciência da nossa natureza mais essencial: somos animais reflexivos e pertencemos a um Universo muito maior que nós, em que o mistério e a beleza são muito superiores a todas as convenções humanas. Fazemos parte de um singular planeta, num singular sistema solar, numa singular galáxia em que existem cerca de 100 biliões de estrelas, por sua vez potenciais sistemas solares. Se juntarmos a isto a existência de cerca de 100 biliões de galáxias conhecidas, então como dizia o outro, é só fazermos as contas da nossa insignificância.
Para isto bem me ajudaram leituras daquele que eu considero o maior dos filósofos portugueses, e quem sabe até do mundo: Agostinho da Silva. Também Carl Sagan com o seu «Cosmos» e «Sombras de antepassados esquecidos», me ajudou a ter uma visão mais ampla da condição humana, e de que afinal não somos tão únicos nem superiores como pensávamos.
Ter é tardar – dizia Pessoa. É urgente outra tomada de consciência, urgente numa sociedade como a ocidental em que o objectivo da existência é o sustento pelo sustento pelo consumo. A única riqueza que vale a pena fomentar está dentro de nós; a cultura, o amor, a universalidade de pensamento, a contemplação de toda a beleza e arte. Hoje quer-se tudo de material e o suficiente ou politicamente correcto do espiritual. Trago-vos outra proposta: o suficiente do material e o tudo do espiritual! Os bens preocupam-nos, tornam-nos egoístas, gananciosos, estúpidos.
Perguntam-me: o que é uma sociedade desenvolvida? Respondo: é a sociedade em que a cultura está em primeiro e a economia depois; em que se valoriza os valores espirituais, artísticos e de contemplação, em detrimento dos materiais.
Deixo-vos alguma poesia do meu novo livro que vai a concurso em julho, para o prémio Manuel Maria Barbosa du Bocage.



Um tempo chegará,
Em que o homem superior,
Ciente do seu ser
E da sua natureza,
Usará do pleno amor,
E entenderá toda a beleza.

Um tempo chegará,
Em que o olhar será reflexo,
Da plena eternidade,
A que o espírito é afecto.

Toda a corrente e moral,
Serão apenas história
De um tempo imaturo,
Em que o homem inseguro,
Feliz se acorrentava
A normas temporais.

Um homem se erguerá,
Alto e pleno
De busto erguido,
Firme na Verdade
Da qual será o eleito,
Para férreo e destemido,
Semear em cada peito
Essa nova Liberdade.

É uma nova e mais completa
Metanóia que se espera.
Um novo ressurgir,
Nascido das profundezas
Do humano inteligir,
Sem partido ou preconceito,
Onde a Verdade não é única,
Nem um nada alienado de nada.



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Ó Alma Interna!...
Acorda em mim a fome do Impossível!
Quero ser todo fome e sede e necessidade de Ideal...

Quero correr para alcançar
A Visão pr´além mar,
Onde o real e a Utopia
Se fundem num só sonhar!

Quero esfacelar o tempo
Buscando eternidade,
Como quem no fundamento
Semeou a Liberdade!

Ser todo de todas as eras,
Alcançando na minha visão,
Toda a Universal história,
Dos fins à Criação!




-


Viajo no tempo
A História emerge ao meu olhar metafísico
Deslumbrado estou com a visão
Das eras idas...

O meu tempo mergulha-me num pessimismo
Deprime meu ser nos fundamentos
- tem de ser assim -
Está escrito na causalidade que me é inerente
Desiludir-me constantemente com o que me cerca
E me é contemporâneo...

É o que me projecta na Eternidade!
Como um romântico busco no passado
E em eras idas
A segurança e o conforto merecido...

E os mestres do passado brilham áureos
- pacientes -
entre a poeira levantada dos que correm
cegos e ignorantes
atrás das suas próprias ilusões
e da felicidade que se vende enlatada
empacotada
e com livro de instruções.







Estar só é privilégio dos deuses.
O silêncio de quem só a si mesmo se pretende ouvir...
Silêncio de quem recua,
Para noutra perspectiva,
Contemplar melhor a Vida...
E no global da pintura tudo entendo!
A moldura não limita
O que aprendo!

Devo voltar para junto dos homens?

E os homens são imagens...
Dançam céleres aos meus olhos
E em silêncio observo...surpreendido
Percorro o tempo em metafísica
De quem se alheia convencido,
De que o real é mais que a coisa física!






(acompanhar com Mozart)

É a subtileza...
O que corre sóbrio, discreto e melodioso sob os nosso pés
Vaga ideia discorrida pelo eremita fugidio
Covarde – talvez – à sombra dos altares
Agarrado metafisicamente à ordem que lhe foge...
Racionalmente, pelo menos...
Por isso ele chama a fé para o apoiar na sua deriva
Humana deriva...distante da sua divindade suprema
O humano tem medo...
A liberdade é um fardo demasiado pesado
E ser divino é demasiado para o medo puro e simples
Constrangedor e apático
Ícone de si mesmo...

E a dispepsia forte é um bálsamo
A simples humanidade encontra-se a si mesma...
Congratula-se e cumprimenta-se dizendo
«Olá!»
A paz? O que é a paz?
E o estado da paz é a morte de si para si
Ou de si para o mundo!

A guerra?
Oh a guerra!
Com os braços pesados e doridos clamando por eterno descanso
Aquele simples humano homem – o eremita –
Rasga as vestes que o cobrem...
Nu vai o rei
Vibra a calma dos altares e a sombra desvia-se obliquamente...
A entranhada guerra
- atómico conflito surge manifesto -
Olhar humano admira-se... o sangue aflora!
Abre-se a igreja.
Pesados gongos são arrastados pela corrente humana
A calma melodiosa dos pés que erram sempre não engana
Há gritos e multidões essenciais... percorrem sempre a sua essencialidade
Nada ansiando pois o Destino comanda
E o sonho...
Já projectado está o pé que calcorreia no recalcado chão da temporalidade
Lá longe onde o grito se dispersa o pé ensaia!
Passos breves são prenúncios de eternidade
Oh soubesse o animal o que conspira o átomo em si mesmo
Sem consciência

Tanto é o treino mas estranhamente tão certos são certos fins...

O deus distante das ronceiras ainda aspira o cheiro do feno
E o sol que o queima não hesita em prolongar-se eterno

O pé deixou a sua marca indelével no pano metafísico
Rendilhado em veredas ordenadas por uma ordem caótica...
Lá está o olhar humano atirando ao ar os seus juízos frequentemente
E ainda mais frequentemente recebendo-os na testa devolvidos
Se alguns – poucos – cometas pontuam o céu de quando em quando
Sobrevoam apenas inócuos a cerda humana
O mar de taxinomia cobre a visão sem se adivinhar um horizonte
E na esfera do animal a luz entra e tudo ilumina
O progresso! Ah o progresso!

Há um moinho que não pára...
Uma roda remoendo constante e férrea em circulo fechado...
Pó é o que dela sai.
O vento já o levou e faz com ele nevoeiro em toda a parte
Sempre.

É um gigante
«É a História!»
Cai morto o etéreo D. Quixote desarmado
Ponto.

Já a alma do Poeta clareou
Como a água límpida e transparente de um inteligível lago!
Como a Lágrima Absoluta onde esperneio como um insecto
E me afogo inteiro à espera da glória eterna
!
Um palmar algures na vida humana...
Nada magnifico porém...sublime
Sublime...

Sublime

Carne renegada jaz perdida
Apenas um material meio para o céu
Plano Superior platónico para onde esse efebo atira o dedo arrogante...
E essoutro o imita antes de beber a cicuta redentora

Cicuuuuuutaaaaaa...

Que paz liquida se funde na melodia das coisas
E subtilmente serpenteia sob a turba de pés condenados à Liberdade!


Ainda Mozart


Arte que me assombras arrancando de mim tudo o que sou
O que vislumbro distante em mim se transfigura
E não o entendo...
Tudo flui
Liquido o devir da arte se espreme da vida agarrando o Eterno...

No meu fechado circulo de entidades etéreas e inteligíveis
Vivo, sou, respiro Ser
Sou a lira do Absoluto dedilhada misteriosamente...
Misturo-me e tropeço tropegamente em mim – Nada – e no Absoluto de mim
- Tudo e Nada -


...de preferência Clarinet Concerto, k.622 – Adagio


Aparência
Ao animal olhar tudo é aparência
E o Perfeito nada deve ao subjectivo
Mesmo sendo o homem inspirado – momentaneamente – pela absoluta
perfeição
A melodia superior ainda está longe da humana compreensão...

Efémeros são os zénites atingidos
- vento, brisa, pedaços de sonho -
Suficientes são, porém, para cravar na rocha eterna o criador
Longe é a visão do desconhecido
E o incomensurável não se desvela de uma só vez
Nem se dá de corpo e alma gratuitamente...


...talvez Piano Concerto NO.21, k.467 Andante


Ao som do celeste embalo a mão decidida percorre o vazio das coisas
vazias
de si mesmas
- potências reais do real subjectivo -
Reivindica a liberdade precipitando-se contra o Desígnio
Vinga-se o Desígnio arrastando-o pelo macadame dos tempos...

Já Séneca se revirou na sepultura dos sábios
Eterno eremita conduzido pela resignação ao Fado...
Riu-se dos que bracejavam ingénuos contra a corrente etérea,
E depois cansados foram arrastados pelas águas revoltas...


Requiem, K.626 – Lacrymosa


Superior é a ideia humana ainda que grosseiramente se deturpe
Na turva atmosfera do corrompido
E aí está a voz humana num crescendum divino...
É a unidade das vozes e das vontades que projecta o Ser
E o chão vibra – também o céu contagiado troveja...

No olho do furacão e do fragor da luta
Repousa a Verdade.
O pleno devir já se confunde com as nuvens etéreas do sonho...
Sonhar! Oh sonhar com o porvir da felicidade!
Chorar sempre – carpir de amor à Humanidade
Esticar o braço lasso mas convicto e tocar a mão de Deus...

O agora é já prenúncio
É a Arte mediadora e já faz tremer os corações frios
Já a natureza do instinto renasceu das cinzas como Fénix
E o natural regressa ao templo da harmonia
- o clássico do Homem renasceu -
A Alma renova-se a cada momento sempre mais intenso,
E o espírito novo repousa sem pressas
No coração humano!

segunda-feira, junho 13, 2005

Reflexão inaugural

Pura e simplesmente escrever, eis o meu desejo. Tudo flui nesta vida, nestas horas que passam sem dar noticia de nada, neste tédio abrupto em que me encontro e que se me afigura eterno. Penso momentaneamente em qualquer coisa realmente produtiva e que no seu gérmen possua o espírito da eternidade. Tenho de estudar – é verdade! Leio um pouco sobre Antero, o realismo e o positivismo. Eis a Revolução a meus olhos, as grandes ideias, os grandes timoneiros das revolução que, pacientes e convictos nos puxam do lodo da nossa própria mediocridade... E morro de olhos fechados enquanto ouço Chopin.
Talvez a Humanidade nunca se tenha realmente apercebido do essencial. A mudança e a revolução são sonhos demasiado altos e abstractos. O que interessa de facto é viver...mas para quê? Leio Agostinho. Ele acredita fervorosamente no V império. E porquê? De que vale viver se não acreditarmos que o futuro nos trará as soluções para os problemas da sociedade de hoje? Então fico confuso. Viver é criar, e não me basta vegetar no amor e na paixão desenfreada. Há um projecto. Todos somos parte dele. Fomos criados para criar, eis o nosso futuro e objectivo de toda a existência! Aos outros seres vivos ( não lhes chamo animais porque estaria a considerar-me fora desta categoria o que é um puro acto de arrogância, portanto de estupidez), estão determinados pela existência a serem como são. A evolução trouxe-os até um determinado patamar, e hei-los felizes. Nós seres humanos somos os mais infelizes animais do Universo. A necessidade que temos de nos agarrar seja a que metafísica for, a procura constante da moralidade, a consciência lúcida da nosso carácter inacabado deixa-nos pouco tempo para viver. Mas porque nos trouxe a evolução até este patamar privilegiado (ou não)? Paro um pouco e sinto falta de uma cigarrilha. Já fumei uma hoje e não pretendo abrir precedentes e fumar outra. Tantas vezes esbarrei contra a vastidão imensa das grandes questões, e sempre que isso acontece sinto uma náusea mental imensa. Peço à minha irmã para pôr Chopin de novo. Preciso da sua melodia para lucidamente ir puxando a meada que já vislumbro, mas que raras vezes tenho coragem para puxar até ao fim, o que na prática é impossível...
Onde é que eu ia?
Na Natureza e nesta intrincada máquina a que chamamos mundo, nada acontece por acaso. Não sou Deus, e deveria talvez abster-me de afirmar tal coisa mas sinto que, no mais profundo de mim mesmo, àquela profundidade onde me confundo com Absoluto e me dissolvo no Uno, o Ser caminha subtilmente e constante por veredas determinadas. É a intuição de alguém que é feito da massa do Universo, como o filho que subtilmente se apercebe dos pensamentos da mãe por do seu ventre ter derivado.
Somos Natureza. Não podemos negá-lo. Talvez quisesse o Universo tomar consciência de si mesmo através dos nossos olhos. Usar os nossos sentidos e capacidades para se compreender, se moralizar, se perspectivar, se experimentar... Porque não nos foi dada a verdade de mãos beijadas? Porque não nos foi dado o caminho, apesar de sermos máquinas tão perfeitas e complexas? Terão as placas de Moisés a resposta? Serão os preceitos de tantos profetas a verdade e o caminho? Talvez até tudo já nos tenha sido oferecido de mãos beijadas, ou talvez o tenhamos pago com todo o sangue derramado pelos séculos dos séculos. Se já nos foi dada porque continuamos a questionar? Talvez a sociedade e a moral sejam isso mesmo – simples motores de aceitação passiva da verdade, para que o acto de questionar se dissolva progressivamente e o Universo em nós se compreenda... mas para quê? Não me parece que o Universo pretenda compreender-se definitivamente com simples convenções tantas vezes humanas e mal interpretadas. Não está nos seus objectivos supremos Não matar, Não mentir, Não cometer adultério, Não adorar outros deuses, etc. Não nego que são convenções importantes, são porém um caminho dado para alguma coisa mais que não compreendemos. Quererá o Universo contemplar-se pura e simplesmente como um Narciso que passa horas a olhar-se reflectido no lago? Temos sempre de resistir à tentação de antropomorfizar a realidade: eis o maior dos pecados! Não me parece que o Absoluto seja qualquer coisa de semelhante a vaidoso...
Tantas questões e tão poucas respostas. Afinal se todas as respostas fossem desveladas o que seriamos nós e a nossa natureza inquisidora?